sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Voltas.

Eu sei como fazer isso.
Sei como seu corpo se move quando o desejo te domina. Como sua boca se contrai e sutilmente treme ao respirar mais fundo em sua orelha.
Eu gosto daqueles movimentos e da respiração ofegante quando sussurros percorrem sua nuca. Sinto falta do frio e do suor quente. Das mãos trêmulas e da boca seca.
Sei onde devo ir e como agir.
Onde minhas mãos fazem a transição do suave para rijo.
Onde minhas pernas te entrelaçam e os movimentos já não são mais carinhosos.
Consigo ouvir coisas que não consigo pensar e distinguir, mas são exatamente os sons que queria.
Eu sei o que você procura com aquele olhar. O que você espera com aquele beijo e o que espera que eu consiga te fazer sentir.
Sim, eu sei como fazer isso.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Observação.

Eu a observava.
Viveu na esperança.
Projeções sobre sua própria ilusão, sua vontade.
Ouvia a todos, e não ouvia ninguém. Não havia mais ninguém.
Só queria ela, só pensava, desejava, sentia e podia querer-lhe.
Quando queria desacreditar, um simples lugar comum lhe resgatava os sonhos.
E eu, observava. Instigava-me, prometendo fascínio.
Como as palavras não faziam sentido, como a paixão domina.
Esqueceu dos amores antigos, das promessas e dos “para sempre”.
A memória curta e seletiva de apenas dois meses foi suficiente para substituir o amor próprio por um doentio.
Ela estava sofrendo calada, e eu sabia.
Seus olhos abatidos, sua boca guardava o grito da dor mais exasperada.
Mesmo assim, sorria. Era um sorriso torto, sincero.
Ela sabia que suas lágrimas não a trariam de volta.
E eu sabia que elas embaçariam minha imagem do espelho.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Retorno

Eu estava indo em direção a um lugar desconhecido,
sem saber o caminho que queria tomar, pouco importava o rumo.
Me sentia perdida, caindo sobre pedras, rodando de mãos estendidas, sem ter onde me segurar.
Parecia um pesadelo, mas era um pouco pior, real demais.
Nada interessava mais, seria um bom final para uma colecionadora de palavras.
Fechei meus olhos desejando me entregar, há muito já estava me sentindo meio morta.
Era o instante que eu desejava, o momento que nada mais importaria, era um sonho ou o paráiso.
Era o olhar que eu não me permiti esquecer,
o sorriso que brilhava para mim mais nítido que nunca.
Eu estava errada, nem em meus sonhos, nem minhas recordações faziam deste momento tão perfeito.
Eu queria gritar, não a deixar escapar, não perdê-la novamente.
Eu queria sentir o seu corpo, ouvir sua respiração e enchugar suas lágrimas.
Despertar novamente o sentido, e seguir em frente.
Mas estava com medo demais para descobrir o que era, medo de sentir a dor da perda de novo.
As ilusões me bastavam no momento, a imaginação fluia como nunca.
Eu estava gostando e nada mais me importava.
Eu queria que isso durasse a eternidade.
Parecia, e era o meu melhor final.